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sexta-feira, 6 de agosto de 2010

UM POUCO SOBRE OS CÁTAROS



Fergi Cavalca

O catarismo, do grego katharos, que significa puro, foi uma seita cristã da Idade Média surgida no Limousin (França) ao final do século XI, a qual praticava um sincretismo cristão, gnóstico e maniqueísta, manifestado num extremo ascetismo. Concebia a dualidade entre o espírito e a matéria, assim como, respectivamente, o bem e o mal. Os cátaros foram condenados pelo 4º Concílio Lateranense em 1215 pelo Papa Inocêncio III, e foram aniquilados por uma cruzada e pelas acções da Inquisição, tornada oficial em 1233.
Em seu livro “A Doutrina dos Cátaros” Aylton da Silveira relata: “Os Cátaros fundaram no sul da França uma sociedade baseada inteiramente na forma adotada pelos primeiros cristãos. Eram vegetarianos, estudavam métodos de cura, aplicavam o batismo de fogo pela imposição das mãos e tinham uma hierarquia simples constituída de croyants, postulantes e Perfecti, que eram os superiores ou mestres Cátaros. Os Perfeitos ou Cátaros (puros) faziam voto de castidade e tinham que seguir à risca os regimes alimentares, trajar vestes negras e andar em grupo de dois. Construíram castelos em regiões inacessíveis, à beira de precipícios ou em píncaros de montanhas e colinas. A tradição diz que possuíram tesouros inestimáveis e manuscritos antigos. Outros acreditavam que guardavam o Santo Graal, o cálice sagrado que os antigos seguidores de João receberam das mãos de Madalena.
Os Croyants podiam se alimentar de carne, casavam-se, não mentiam, praticavam o amor fraternal e aceitavam a absoluta igualdade entre homens e mulheres. Havia uma caixa de pecúlio para o amparo dos mais pobres e doentes. O sistema social seguia o sistema descrito no livro Atos dos Apóstolos. Embora adotassem os ensinos de Paulo, rejeitavam algumas das discriminações contra a mulher contida nas epístolas. Para eles o homem era trino, constituído de corpo físico, alma e espírito. Criam na reencarnação, mas também admitiam a metempsicose em alguns casos. Assistiam regularmente aulas dos mestres Perfeitos e praticavam alguma forma de exercitamento psíquico e contato com o mundo espiritual.”

Os cátaros, também chamados de albigenses, rejeitavam alguns dos sacramentos católicos. Aqueles que recebiam o batismo de espírito, também chamado consolamentum, eram considerados os perfeitos e levavam a vida de castidade e austeridade citada acima; podiam ser tanto homens quanto mulheres. Os postulantes e croyants eram os crentes, ou seja, homens bons que possuiam obrigações menores; recebiam o consolamentum na hora da morte.
Apesar desta hierarquia, os cátaros eram profundamente místicos e extendiam suas experiências transcendentais ou divina apenas aos mais graduados; qualquer um que desejasse experimenter vôos mais elevados alcançando estados de consciencia superiores, possuiam a aiutorização plena dos perfecti.
A Igreja Cristã, que atribuia a si a primazia de ditar as regras de culto ou adoração a Deus, não concordava, em absokuto com a forma despojada de hierarquia com que os cátaros se comportavam, achando que isso traria danos irreversíveis à fé e à unidade cristã. Principalmente por esse motivo, visto que o número de adeptos à doutrina dos cátaros era crescente, tratou de declarar-los heréticos e, portanto, proscritos da Santa Madre Igreja.
Imediatamente procurou estabelecer uma cruzada para esterminá-los; Este evento ficou conhecido como "A Cruzada Albigense" (1209 - 1229). É claro que inúmeros interesses políticos estavam por trás das medidas coercitivas adotadas pela Igreja; apesar dos cátaros serem extremamente tolerantes abrigando em seu meio membros das várias correntes religiosas da época (judeus, pagãos ou, até mesmo católicoa)mantinham-se independentes mesmo fazendo parte do território francês.
O catarismo espalhou-se rapidamente por todo o Langedoc, no sudoeste da França. Seu principal foco era a cidade de Albi, daí o nome de albigenses. Essa difusão deu-se, principalmente, à partir do século XII.

Antes de tudo, é conveniente ressaltar que o catarismo não pertence exclusivamente ao Languedoc, nem o Languedoc deve ser visto exclusivamente sobre o prisma do catarismo. Aderentes à doutrina cátara recebem diferentes nomes no país em que se inserem: Na Itália, eram conhecidos como "patarinos", na Alemanha como "ketzers"; na Bulgária, como "bogomils". Existiram cátaros na França, na Catalunha, na Itália, na Alemanha e, ao que parece, na Inglaterra.
Os cátaros acreditavam que o homem na sua origem havia sido um ser espiritual e para adquirir consciência e liberdade, precisaria de um corpo material, sendo necessário várias reencarnações para se libertar. Eram dualistas e acreditavam na existência de dois deuses, um do bem (Deus) e outro do mal (Satã), que teria criado o mundo material e mal. Não concebiam a idéia de inferno, pois no fim o deus do bem triunfaria sobre o deus do mal todos seriam salvos. Praticavam a abstinência de certos alimentos como a carne e tudo o que proviesse da procriação. Jejuavam antes do Natal, Páscoa e Pentecostes, não prestavam juramento, base das relações feudais na sociedade medieval, nem matavam qualquer espécie animal.
Os cátaros organizaram uma igreja e seus membros estavam divididos em crentes, perfeitos e bispos. As pessoas se tornavam perfeitos (homens bons) pelo "ritual do consolament" (esta cerimônia consistia na oração do Pai Nosso; reposição da veste, preta no início, depois azul, substituída por um cordão no tempo da perseguição; tocava-se a cabeça do iniciante com o Evangelho de São João, e o ritual terminava com o beijo da paz). Os crentes podiam abandonar a comunidade quando quisessem, freqüentavam a Igreja Católica, eram casados e podiam ter filhos. Dessa forma, eles poderiam levar uma vida agradável, obtendo o perdão e sendo salvos.
Durante o período das perseguições as igrejas cátaras foram destruídas, os ofícios religiosos eram realizados em cavernas, florestas e casas de crentes. A doutrina cátara jamais foi aceita, justamente por contrariar alguns dogmas cristãos, principalmente no que concerne a volta à pobreza e o retornoao cristianismo primitivo.
A Cruzada Albigesa, comandadada por Simon de Montfort (1209 - 1224) e pelo Rei Luis VIII (1226-1229) durou 40 anos. A perseguição arrasou a região dos Cátaros; a resistência teve que enfrentar-se com duas forças enormes, o poder militar do Rei de França e o poder espiritual da Igreja Católica.
Na primeira fase da cruzada, foi destruída a cidades de Béziers (1209), onde 60.000 pessoas morreram. Depois os cruzados marcham para Carcassone, onde Simon de Montfort se apossau dos condados de Trencavel (carcassone, Béziers), conquistando também Alzonne, Franjeaux, Castres, Mirepoix, Pamiera e Albi.
Em 1216, ouve outra investida contra os cátaros. Simon de Montfort morre em 1218, acabando também a cruzada. Entretanto, a heresia não foi extinta. Amaury, filho de Montfort, oferece as terras conquistadas por seu pai a Felipe Augusto, rei da França que as recusa, seu filho Luís VIII acabará aceitando as terras.
Em 1224 Luís VIII liderando os barões do norte, empreendeu uma nova cruzada que durou cerca de três anos arrasando muitas cidades até chegar a Avignon, onde terminou sua luta contra os hereges. O resultado dessa disputa foi um acordo imposto pelo rei da França aos Senhores feudais das áreas conquistadas e conseqüentemente os domínios disputados passariam para a coroa da França (Tratado de Meaux, 1229).
Militarmente, apesar de terem o apóio de pequenos condados, os cátaros não conseguiram resistir ao genocidio das cruzadas, mas elas não conseguiram erradicar o Catarismo de forma definitiva. Foi a Inquisição, a instituição que realmente conseguiu exterminar definitivamente o catarismo.
No chamado País Cátaro viviam outras pessoas cuja religião era o catolicismo, Perguntado sobre como distinguir entre os hereges e os outros, o abade revestido da autoridade papal (o inquisidor) respondeu: "Matem-nos a todos. Deus se encarregará de distinguir os seus".
Muitos dos Cátaros encontraram refúgio dentro das Ordens Templárias, chegando até mesmo a executar seus rituais dentro das Igrejas e Castelos templários. O abrigo e proteção aos Cátaros foi uma das inúmeras alegações que a Igreja usou contra os Templários em 1314.
Os Cátaros deram origem aos primeiros grupos dos chamados “Alquimistas” e seus textos simbólicos, que a partir do século XVII passaram ser conhecidos como Rosacruzes.
Fonte de pesquisa:
Livro "A Doutrina dos Cátaros" de Aylton da Siveira.
Sites diversos da internet que versam sobre os assuntos.

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