CAROS LEITORES

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Aqui é o cantinho onde pretendo discutir e desenvolver o melhor conteúdo para uma perfeita comunhão de idéias que nos possibilite crescer e evoluir dentro do contexto universal.


sábado, 2 de outubro de 2010



MEU MESTRE DISSE:

Um dia meu mestre contou-me a história que passo a relatar abaixo:
“Gwin Yordan, o mago da Floresta Negra, apoiado em seu cajado de teixo, a árvore que exala um veneno sutil, galgava o pequeno, mas íngreme penhasco encravado na falda do monte; buscava ele o aconchego da “sua” caverna preferida, o recanto sombrio onde no silencio de sua solidão conjurava os elementos misturando fórmulas e obtendo poções.
Gwin precisava obter da Awen, o “espírito que flui através de nós”, o estado extático do transe para entrar em contato com o Todo e obter as explicações que serviriam para fortalecer, tanto seu corpo, como a sua fé.
A magia lhe trouxera efeitos miraculosos que o encheram de orgulho na comunidade onde vivia; perante os homens era admirado por sua sabedoria, pelas curas fantásticas, pelos efeitos surpreendentes que obtinha e, também, pela facilidade com que explicava os fenômenos da natureza.
Mas faltava a Gwin alguma coisa para completar seu aprendizado mágico! Talvez fosse a humildade! Quem sabe? Sem dúvida essa é a qualidade fundamental para aquele peregrino que caminha na senda em busca de novos horizontes.
Gwin penetrou o interior da caverna. Vinha à procura de si mesmo; do conselho oportuno para a complementação de seus estudos.
Acendendo o fogo na pira de pedra que escavara para dar consistência maior aos seus rituais, deixou que a luz bruxuleante o elemento vivo, do formador e regenerador da matéria, a luz que traz o conhecimento ao espírito, se espalhasse por toda a caverna. E então postou-se no centro do círculo traçado no chão; espalhou à sua volta os objetos simbólicos e representativos dos elementos. Retirou de um estojo a espada, a pena, o cálice e algumas moedas. O bastão dificilmente deixava a sua mão direita. Era o próprio cajado no qual se apoiava em todos os momentos.
E então Gwin abriu os braços e ergueu-os para o alto pedindo a presença das forças elementais do Universo, conjurando os “devas” que habitam o éter, sempre empunhando seu bastão feito da árvore do ocidente, aquela que exprime o ocaso, o pôr-do-sol, a morte; o símbolo da caverna encravada na terra na qual o homem profano morre para dar vida ao buscador eterno.
Jatos de luz brotaram do topo do poderoso amuleto e, na penumbra bruxuleante do recinto escavado na rocha, um ser tomou forma e materializou-se à sua frente! Não era homem ou mulher; não tinha sexo que o definisse nem forma que fornecesse qualificação; apenas uma sombra!
Era a Awen fluindo a sua natureza etérea retirada do eu secreto do mago naquela caverna obscura! E ante a indagação muda de Gwin que interrogava a sombra com uma expressão enigmática que lhe modificava o semblante, a aparição assim lhe falou:
“Pardal, tu que queres voar com as asas da águia, detém teu vôo e arrefece tua arrogância perante os mistérios do mundo! Pratica em ti mesmo a fundamental virtude da humildade! Arremessa para longe de ti esses arroubos da vaidade que sinto brotar na profundidade do teu inconsciente! Neste instante pedes o conhecimento ancestral, sem entenderes, ainda, que a tua alma é a manifestação de uma emanação muito maior do que tu mesmo e que exprime toda a realidade substancial do Universo; ela, a tua alma, permanece presa aos grilhões forjados pelos vícios, emanações profundas de nossa personalidade e insensível ao apelo de Deus. Olha para dentro de ti e apercebe-te do espírito que habita teu corpo; com o discernimento que já possuis, deves levar o teu espírito para passear pelos campos e sorver da pura emanação que se esparge sobre a terra; é junto com a natureza, no interior das matas, na beira dos regatos, junto às cascatas, ouvindo o sibilar dos ventos e o fervilhar da chuva que encontrarás as respostas do teu ego; repara que no teu interior que a mudança é sagrada; ela é tão integral às tradições antigas quanto aos ciclos que se formam através das forças naturais; estuda em cada manifestação a lição que o Todo te exibe, seja nas fases da lua, seja no fluxo e refluxo das marés, seja na primavera, no verão, no outono ou no inverno”.
“Pedes o conhecimento do passado e do futuro, continuou a sombra, mas esqueces que o espaço e o tempo formam a dimensão onde habitam esses dois senhores; deles advêm o presente, escaninho do teu tempo onde moram os teus atos atuais. E a responsabilidade deles é tua! Age conforme a tua consciência exige, empregando os nobres ensinamentos que tua condição intelectual te permite possuir. Esta é a síntese do conhecimento que pedes e que a caverna, o símbolo da iniciação esotérica te responde, transmitindo-te a oportunidade de ressurreição para a vida eterna”
“Ao terminar esta exortação a luz que emanava do cajado de teixo se extinguiu e Gwin achou-se novamente só. Dobrando os joelhos prostrou-se humildemente e lágrimas de agradecimento rolaram por sua face.
“E contrito, sentindo-se agraciado pela profunda luz que emanou do seu eu interior, o ente supremo que habita dentro de nós, Gwin orou ao Deus da Natureza! “Rogou as bênçãos ao Deus do seu coração, e agradeceu a sublime oportunidade do encontro do homem carne com o homem alma.”
Que a Profunda Paz de Deus floresça como rosas na cruz do nosso coração!